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"A Irresistível Tentação Pelo Populismo" por Carlos Branco

Carlos Branco
Contributor
4 min. de leitura
António Costa

Falo como cidadão português mas quanto a esta temática a minha opinião pode não ser a mais isenta, já que é algo que afecta directamente a minha actividade profissional.

No entanto, falo também na condição de ex-militante da Juventude Socialista e do Partido Socialista. Venho de uma família com ideias de esquerda, que acabei por abraçar durante boa parte da minha vida. Estive activo na Juventude Socialista com o sentido de querer dar o meu contributo para que, na companhia de um grupo muito capaz e inteligente, pudéssemos influenciar os decisores políticos com ideias refrescantes e livres de preconceitos. Eu e grande parte desse grupo deixámos de participar no momento em que o aparelho do partido começou a interferir de forma inaceitável no nosso trabalho.

Afastei-me da política mas continuei a ter interesse e opinião formada, embora passível de mutação. Ao longo dos últimos anos, cada vez mais percebi que a linha que separa o PS do PSD é bastante ténue e que a diferença está nas pessoas. Aliás, na minha opinião, o cargo de primeiro-ministro não tem que ser ocupado por alguém extremamente culto e conhecedor de imensas temáticas. O primeiro-ministro deve ser um líder, que se sabe rodear de uma equipa de qualidade e, em última instância, tomar e assumir decisões. Nos últimos anos via duas pessoas com este perfil, Rui Rio e António Costa.

Através do já habitual mas lamentável método de deixar um líder partidário fazer oposição durante 2/3 anos, deixando-o desgastar-se, António Costa chega à liderança do PS a cerca de um ano de eleições. Eu fiquei dividido. Neste momento começava a desenhar-se uma lei para o jogo online, em que notou-se a participação de muitos leigos na matéria mas que felizmente foi liderada por um Secretário de Estado competente e corajoso. Para além disso, depois de um inicio titubeante, senti que o actual Governo estava a conseguir encontrar um rumo com alguma coerência.

Eis que António Costa assume a liderança e, surpreendentemente, a sua firmeza e competência começam a ser abaladas por diversos casos. Em um ano, António Costa mostrou que é incompetente na escolha das suas equipas de trabalho, desde o seu projecto económico à campanha eleitoral; que não é corajoso, pois regressou a uma vertente bastante populista do PS; que não é um líder capaz, porque viaja ao sabor da opinião pública; que é implacável, porque deixa cair em desgraça as pessoas que escolheu para determinado projecto, de forma a que a sua figura fique o mais intacta possível.

Ontem na sua entrevista à SIC Notícias, António Costa mostrou todo o seu populismo e incompetência. Deu uma visão agradável para o “povão” sobre um assunto que tenho muitas dúvidas que domine e, que mesmo que domine, é demasiado específico para estar a afirmar o que vai fazer, porque um primeiro-ministro deve dar linhas orientadoras e deixar que sejam as equipas competentes tratem dos assuntos específicos. A verdade é que fica sempre bem dizer na televisão que não se vai dar dinheiro para o futebol e que este deve ser dirigido para os pobrezinhos da Santa Casa, uma entidade sem fins lucrativos, apenas aberta ao dirigismo de causas, que vê a sua actividade ser constantemente limitada, já que neste momento apenas detêm o exclusivo do Euromilhões, das raspadinhas, das lotarias, a quem deram o pequeno rebuçado do exclusivo das apostas desportivas em espaço físico, para não dizerem que ficaram sem nada. Não dá explicações para tal posição, o que por si só é revelador da sua ignorância e má-fé na questão, e ainda consegue misturar diferentes receitas: as resultantes dos impostos e as que resultam da actividade normal das empresas.

Ou seja, António Costa diz que quer o dinheiro dos impostos desta actividade para a Santa Casa e, em seguida, que não vai aceder às pressões dos clubes de futebol, que querem ter acessos a patrocínios de casas de apostas. Ora, portanto, ele consegue não só confundir duas receitas de origem, meio e destino completamente distintos, como demonstra que não sabe que com exclusivo da Santa Casa, não haverá interessados em actuar num mercado de 10 milhões de pessoas, ou seja, não haverá dinheiro dos impostos para os pobrezinhos, nem da publicidade para o futebol. Algo tão elementar!

Para além disto, estando já a lei publicada em Diário da República, ou seja, já no activo, creio que esta contempla que apenas poderá ser alterada 2 anos após a sua criação. Ele tem noção disto?

Sou uma pessoa que durante muito tempo se identificou mais com ideias de esquerda e alguém que adora ter razão. Há 4 anos atrás, disse por variadas vezes que os portugueses estavam a cometer um erro crasso ao eleger Passos Coelho. É irónico ver que, passados 4 anos, faço um texto de opinião em que critico duramente a pessoa que durante muito tempo acreditei que podia ser a mais capaz para o cargo de primeiro-ministro e que vou apoiar a pessoa que tanto critiquei. É ainda mais irónico que, gostando muito de ter razão, afirme tão veementemente: eu estava errado, redondamente enganado. A esquerda está a dar todas as razões para que não votem neles, cabe agora aos portugueses decidirem se querem seguir a sua tradição de mudar porque sim e dar ouvidos a pessoas que estão a demonstrar ser um total desastre e de uma gritante pobreza intelectual.

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