Exclusivo: Ben Mezrich Fala Sobre o lIvro Straight Flush, a Verdade Sobre a Absolute Poker, e Mais
No final de Maio,mais ou menos no inicio das World Series of Poker 2013, Ben Mezrich lançou o livro Straight Flush: A história verdadeira de 6 amigos universitários que criaram um império de Biliões de dólares no poker online — e como tudo veio abaixo.... Estes 6 amigos foram os fundadores da Absolute Poker, sala que foi encerrada no dia 15 de Abril de 2011 na famosa ação Black Friday do governo norte-americano. Desde o lançamento do livro que tem existido muita polémica em torno da verdade dos factos que Mezrich diz serem "uma narrativa não ficcionada," e em particular sobre a parte do famoso escândalo Absolute Poker.
No final de Junho, o editor chefe da PokerNews, Matt Parvis, teve a oportunidade de entrevistar (exclusivo) Mezrich no seu escritório em Boston. Na entrevista falaram sobre o processo de escrita do livro, o quão envolvidos estiveram os personagens principais, as diferenças sobre o que foi dito sobre o escândalo no livro e na imprensa e se Mezrich sentiu que os envolvidos foram sinceros consigo quando lhe contaram a sua versão dos fatos.
Parvis: Ben, diz-nos como te envolveste no projeto Straight Flush.
Mezrich: Tudo começou com o Bringing Down the House e o 21 e continuou com The Social Network. Recebo 20 a 30 histórias por dia, quer seja no meu site ou no Twitter, qualquer universitário que tenha afeito algo esquisito me envia a sua história, na verdade, todos os Julian Assanges do mundo me enviam as suas histórias.
Há alguns anos atrás, nem sei bem quantos, chegou-me a história do Garin (Gustafson), um dos fundadores da Absolute Poker. Eu ignorei-a quase por completo, já tinha jogado algum poker online mas pouco sabia sobre a indústria e muito menos sabia se queria escrever sobre a mesma. Depois voltei a receber a história do Pete Barovich, acho que eles nem sabiam que eu já tinha sido informado sobre a história do Garin.
A história do Pete era melhor e fascinou-me, comecei a procurar mais informação sobre o assunto e cheguei a isto: retiram-se para locais exóticos, muito dinheiro envolvido, muita intriga e atividades "complexas". Depois aconteceu o escândalo do "cheating", a lei UIGEA e a queda da indústria. Em conjunto, todos estes pontos faziam uma boa história e comecei a falar com o Pete, o primeiro que contactei, em Phoenix.
Depois iniciei um processo de descoberta de fontes e consegui chegar à fala com todos eles, todos pareciam dispostos a "abrir o jogo". O mais relutante era Scott Tom, começou por não querer falar comigo por causa do programa 60 Minutes, ele estava em Antigua e foi muita gente atrás dele, era uma altura complicada e Tom ainda estava a ponderar as suas hipóteses. Consegui falar com ele e convencê-lo a participar no livro. Foi nesta altura que tudo começou, tinha muito pouco conhecimento sobre o assunto e só tinha jogado um pouco de poker online e ao vivo entre amigos.
Depois do Busting Vegas a última coisa que queria era ver cartas, ir a Las Vegas, o que quer que fosse que estivesse relacionado com o tema. Depois do Social Network passei a estar mais exposto e tinha mais propostas na altura, a queda desta indústria foi o que me fascinou. Este projeto parecia uma mistura era o 21 e o The Social Network,resolvi entrar de corpo e alma no mesmo.
Hesitaste em algum momento, disseste que o Garin e o Pete te enviaram a história, pensaste que poderia existir uma "armação"?
Nunca hesitei, todos queremos uma história destas, tento as fontes disponíveis que mais posso pedir? É muito mais simples escrever um livro assim do que nos casos em que os visados não querem falar. No The Social Network tive problemas, o Eduardo veio falar comigo, depois foram os gémeos Winklevoss, o Sean Parker apenas o Mark (Zuckerberg) nunca falou comigo, isso dificulta as coisas.
Quanto tempo demora o processo de escolha do material para os teus livros?
Bem, é um processo que dura alguns meses. Uma parte envolve os teus agentes e muitas outras pessoas, fazer um livro é algo que envolve o empenho de muita gente - editores, a parte dos filmes - queres sempre entrar em projetos que tenham pernas para andar, é complicado fazer tudo rápido é necessário perder tempo a avaliar bem todas as partes envolvidas.
Precisas entrevistas pessoas, via skype, presencialmente em vários pontos do globo, juntar documentos (tribunal), muita coisa. Por exemplo, a nível judicial eu não tenho só as acusações, tudo o que foi dito e feito nos tribunais, por mais pequeno que fosse o assunto ou a audição, eu tenho nos meus arquivos. Depois existe a parte em que vais atrás de tudo o que envolve as pessoas que são focadas no livro, entrevistas, artigos de jornal, blogs, tudo é compilado e visto. Como podes ver, são coisas que demoram algum tempo.
Fala-nos da tua experiência a jogar poker ao vivo ou online.
Desde que escrevi o 21 que passo muito tempo em Vegas. Estive lá com a equipa de Blackjack do MIT e eu também gosto de jogar, posso dizer que sou jogador. Quando o poker online estava na moda aqui nos EUA eu jogava, maioritariamente na PokerStars. Nunca joguei muito caro, cheguei a ter uns $1,000 online mas perdi tudo. Parei de jogar porque me perguntava, a quem estou eu a fornecer os dados do meu cartão de crédito? Para onde vai este dinheiro? Acho que toda gente pensa o mesmo sempre que usa o seu cartão de crédito na internet. Naquela era esquisito fornecer os dados a um qualquer banco na América do Sul, o que poderia acontecer? Acho que parei por esse motivo, pensei "quem sabe o que vai acontecer".
Sempre gostei do jogo online e achei estúpido que fosse considerado ilegal. Porque que é que isto é ilegal? Posso comprar bilhetes de lotaria no supermercado, posso ir à Ameritrade e apostar o dinheiro da minha reforma numa ação qualquer e não posso jogar poker online? Se eu dissesse que era bom jogador os meus amigos iam rir por isso posso dizer que era bom a foldar até ficar em terceiro num torneio. Faço fold a ases pré-flop sem problema nenhum, é esse tipo de jogador que eu sou.
Disseste que tiveste a cooperação total dos principais personagens do livro, podes falar mais sobre isso?
Sim, todas as personagens principais : Garin Gustafson, Pete Barovich, Scott Tom, Hilt Tatum e Brent Beckley, com quem falei antes de ser preso e depois com o pai Phil Tom. Estes são obviamente os "inside guys". Existem outras pessoas com quem troquei mails mas que quiseram ficar no anonimato e depois como é claro, tive todos os documentos do tribunal.
É interessante ver os caminhos escolhidos pelos dois irmãos, um entregou-se e outro ainda anda por aí à solta. Viste essa grande diferença de atitude entre ambos?
Sinto pena do Brent, ele é espetacular, acho que todas as pessoas que o conhecem nunca terão algo de negativo para dizer sobre ele. Acho que fez coisas sem sentido, pode-se até dizer parvas, acho que sabia que se estava a arriscar muito sendo a pessoa que processava os pagamentos.
Ele sempre quis olhar, e ainda olha, pelo bem estar do seu irmão. O Scott é mais do tipo cowboy, o Brent viu uma oportunidade de voltar a casa e agarrou-a, penso que sempre teve na cabeça a ideia de que não iria preso.
Os seus advogados e o próprio estad devem ter-lhe passado a ideia errada e ele por força de algumas circunstâncias, como trazer os filhos de novo para os EUA, acabou por aceder. Aquilo que ele pensava ser o inicio de uma nova vida nos EUA, foi apenas o inicio de uma vida atrás das grades.
Já o Scott tem uma medo terrível de ser preso e não abandona a ilha. Tenta chegar a acordo mas o dinheiro que lhe pedem é muito e ele diz não estar na posse de tal quantia.
O Beckley e o Scott Tom têm versões diferentes do que se passou? Foi complicado para ti chegar a uma conclusão?
Sim e não. Houve alturas em que a falar com o Brent ouvia uma coisa e passado algum tempo voltava a falar com ele a versão já era outra. O Scott era mais claro a expressar os seus "sentimentos" sobre os fatos. Ele sente que tentou proteger toda a gente da empresa e que saiu quando viu que não o conseguia fazer. Já o Brent demonstrava uma atitude diferente e via-se nitidamente que só queria que tudo acabasse o quanto antes. Não lhe interessa muito o certo ou errado desde que tudo acabasse em breve.
Quando falei com ele pela primeira vez ele pensava que seria o único a ir preso e os outros todos permaneceriam com as suas vidas intactas. Com o tempo acostumou-se à ideia e acabou por dizer "isto não é cancro, eu vou ultrapassar a situação". Penso que até existiu uma altura em que culpava o Scott pelo sucedido, mudou de ideias algum tempo de depois e viu que não era justas as suas acusações. Na verdade, ele viu que não era justo para ninguém.
Achas que eles estavam cientes que a história iria ter impacto e ser bastante falada e por isso tentaram parecer os "bons da fita" ou limar um pouco a sua imagem?
Quando me encontrei com eles estavam preocupados pois não sabiam o que eu iria fazer ao certo. Não sabiam se eu ia olhar as coisas pela negativa ou ter uma visão mais positiva de toda a situação. Eles não tinham controlo sobre o que eu iria escrever, eu podia escrever uma história "inventada" e isso aterrorizava-os. Os nossos encontros eram engraçados porque eles tinham medo do que me diziam, já tinham sido enganados uma vez. A primeira reunião foi em Antigua e estavam presentes o Scott, o Hilt e o pai do Scott. Acabei depois por me encontrar com o Hilt em Toronto porque ele não entrava nos EUA, não tinha nenhuma acusação contra ele mas preferia viver no Panamá apenas por precaução e estudar em Oxford. Assim, numa das suas deslocações para Londres encontrei me com ele em Toronto. Com o Pete encontrei-me em Phoenix, que é onde ele vive atualmente. As reuniões com o Shane e e o Garin foram na maior parte das vezes pelo Skype.
Algo te surpreendeu durante as entrevistas?
Quando eu li a história pela primeira vez imaginei um avião cheio de dinheiro, armas, um monte de maluquices do género. Depois, quando me encontrei com eles, vi que eram todos simpáticos e muito inteligentes, em especial o Hilt. É muito bem falante e sabe bastante bem do que fala (negócios). Foi como entrevistar pessoal do Wall Street, todos os elementos que um escritor precisa de retirar de uma entrevista eu consegui retirar das conversas com eles. O Brent falou-me até da história das drogas no sapato dele, estas que normalmente não são ditas com a facilidade com que ele disse, foram todos muito "abertos". Essa abertura só se fecha quando se fala no escândalo do "cheating", de resto, tudo o que perguntei foi respondido de forma bastante aberta.
De certeza que com o andar da entrevista vamos alcançar o escândalo do "cheating". Quão familiarizado com o poker online ficaste depois de todas as entrevistas feitas?
Com o mundo do poker no geral acho que não fiquei muito, com a história deles fiquei bastante. Com todos os apontamentos que tirei poderia demorar de 10 anos a 6 meses a escrever um livro, como autor tens de escolher de que tipo queres ser — alguém que passa uma carreira a escrever um livro, ou alguém que usa um espaço de tempo limitado? Eu escolhi ser alguém que leva um espaço de tempo "civilizado", a certa altura sabes que tens de parar de escrever.
Em relação ao escândalo posso dizer que encontrei várias fontes interessantes online, alguns fóruns com boa informação, ainda que no geral sejam só pessoas a gritar umas com as outras.
Acho que o 2+2 tinha informação interessante. Acho que foi o site onde a notícia foi lançada, foi uma boa fonte para mim. Onde quer que o Google me mandasse procurar, eu procurei, como não conheço os bloggers não sabia quem eram os autores da informação, ainda assim arranjei boas informações.
Em algum momento os intervenientes te taram mudar os seus testemunhos?
Existiram vários momentos em que o Scott reconsiderou envolver-se ou não em tudo isto. Portanto, sim, existiram vários desses momentos onde eles estavam aterrorizados com tudo isto. Todos os livros que eu escrevo são assim, existe sempre um momento em que uma das personagens principais diz que não quer ter nada a ver com aquilo. Normalmente, já é tarde demais quando se "lembram" de o dizer. À exceção do Pete todos estavam nervosos, o Scott era o pior e acho que ainda hoje deve estar nervoso.
O que achaste do produto final, quando é que submeteste o teu rascunho?
Submeti-o quando achei que estava ok, eu gostava do que ali estava e enquadrava-se com o meu tipo de escrita. Anteriormente tinha mostrado aos "rapazes" os rascunhos, para ver o que eles diziam sobre a precisão usada por mim. Todos eles disseram que os dados eram bem precisos e por isso não lhes mostrei o último rascunho. A única review que não foi positiva foi a do The Wall Street Journal, de resto o The Globe,Publishers Weekly e o The New York Times gostaram. A minha relação com a Janet Maslin não é boa daí que a review dela tenha ainda mais valor. Ela tem algum problema comigo e fala sempre mal dos meus livros, desta vez gostou...
Eu escrevo narrativas, nada de ficção. Faço a minha pesquisa, entrevisto todos os personagens envolvidos, junto todo o material escrevo-o como um thriller. Não o escrevo como se fosse um documentário ou um artigo para o New York Times.
No livro as personagens falam muitos vezes em fazer negócios de maneira legítima, apontam até algumas sites de apostas cuja maneira de fazer negócio não querem copiar. Mais depois, algo que não é mencionado no livro - a Absolute Poker oferecia jogos de Blackjack aos seus clientes, algo claramente ilegal e diferente do poker que estava numa "zona cinzenta" da legislação.
Deveria isso constar do livro ou não? Vendo as coisas em retrospectiva, se eu soubesse disso na altura, coisa que não sabia, eu acho que a teria incluído. Acho que a história na sua totalidade não muda por causa desse ingrediente. A industria tornou-se "escura" após 2006, altura em que ninguém achava que o que estava a ser feito poderia algum dia ser alvo de um processo. Toda gente sabia o que se passava, inclusive os bancos, o dinheiro que era transaccionado diariamente devido ao poker online, continuou a ser transaccionado no dia seguinte à proibição como se de bolas de golfe se tratassem. Na altura dos fatos cheguei a ser abordado por várias empresas para ser seu porta-voz, sem saber bem o que isto poderia dar, recusei. Perguntei ao Scott, se soubesse que tudo terminaria assim não teria largado "esta vida" em 2006? Ele disse que na altura foi aconselhado por advogados e que ninguém previa este desfecho...
Falemos agora sobre o escândalo ... (Mezrich fala imediatamente sobre o mesmo)
Primeiro ponto. Todas as pessoas que sabiam que eu estava a fazer um livro sobre a Absolute Poker só queriam que o resultado final fosse um livro de 300 páginas sobre o escândalo, algo que se passou há alguns anos atrás e que durou umas 7/8 semanas, onde foram perdidos $800,000 que depois foram restituídos.
O livro que todos queriam era aquele onde todos os intervenientes fossem crucificados por serem mentirosos e aldrabões, o livro que eu queria escrever e escrevi era sobre a ascensão e queda (rise and fall) da Absolute Poker. Para mim essa história era muito melhor e maior.
Quando cheguei a essa parte do livro, e como já disse, tinha muita informação vinda de blogs e entrevistas. Do que li, não existia nada que pudesse condenar o Scott em tribunal. Acho que as informações que tenho no livro são bastante credíveis e refletem a verdadeira situação na perfeição.
Basicamente o que se passou foi que alguém começou a ganhar muito dinheiro e um grupo de jogadores do 2+2 fez queixa à Absolute Poker (AP). A AP disse que não se passava nada porque realmente achava que tal era verdade, apenas alguém a jogar bem ou a ter sorte.
Durante anos ouviram-se queixas do género e é natural pois é assim que esta industria funciona.
Os mesmos queixosos descobriram então que havia alguém com acesso às cartas dos outros jogadores "super user" e que o email desse jogador era um antigo email do Scott. Quando confrontado com isto, Scott ficou furioso e foi a fundo na investigação que culminou com a descoberta de um antigo funcionário que tinha acesso a um email e computador de Scott devido a um software antigo que por lá ficou. Está tudo explicado no livro.
Mencionas várias fontes que falam sobre informação que não pode ser usada em tribunal, mas porque não pode essa informação ser usada por ti para confrontar as personagens do livro para tentar obter mais informações? Existe IP logs, emails e mais informação do que a que é mencionada por ti.
Quando falei com o Scott sobre os endereços IP ele diz que o "fulano" tem acesso ao computador dele e que era praticamente da família. Tinha acesso a tudo. O Scott perguntou-me ‘porque faria eu batota?' Tu sabes que este negócio é de milhões, porque estaria eu sentado no meu quarto a enganar as pessoas. E nega-o categoricamente.
Senão foi ele e é tão contra a burla, porque não apontou a pessoa que enganou os jogadores da AP??
Eles dizem que confrontaram a pessoa e que em troca do montante exato da burla eles deixaram-no sair da empresa sem dizer o seu nome. Era alguém que tinha acesso a tudo na empresa, nunca me disseram o nome.
Qual a tua opinião sobre o escândalo, achas que mentiram sobre o assunto?
Andei às voltas com este tema. Quando fui ter com o Scott pensei que ele me ia contar a verdade sobre esta história. Quando falei com o Garin, Hilt e o resto da malta vi que eles não tinham bem a certeza do que se tinha passado. O Peter disse que tinha sido uma surpresa para ele, nenhum deles acha que Scott é o culpado porque não tinha motivos para o fazer. A ideia de que ele precisaria de mais $800,000 era ridícula se comparada com os valores que ele ganhava na altura. para além disso todos achavam que a empresa era o bébé de Scott e que ele nunca a poria em risco com uma estupidez daquelas. Para mim como escritor é impossível de tomar um partido nesta história sem uma grande prova, essa grande prova seriam por exemplo uma série de contas que vi num screenshot?! O que procuro eu nessa imagem?
O mesmo dizem os advogados. Algumas das pessoas que leram o livro dizem que o Scott é o culpado, outros chegam ao veredicto contrário, é muito complicado.
Existe uma teoria da Haley Hintze que diz que eles tinham um avião cheio de dinheiro, tipo $3 milhões. Já viste esse dinheiro ao vivo, sabes o que é? É muito dinheiro, imaginas o Scott e o Hilt com as respectivas namoradas a irem de férias num avião cheio de dinheiro?
Para mim, a quantia de dinheiro envolvida nessa história é interessante, mas o timing sobre o qual a Haley Hintze escreveu intensivamente uma série de artigos sobre o teu livro é mais interessante. na verdade, o desastre de avião aconteceu mesmo no principio do mês de Setembro e o escândalo deu-se depois. No livro estes acontecimentos têm as ordens trocadas, uma grande alteração.
Falei com eles sobre o assunto e disseram que o escândalo decorreu durante umas 7/8 semanas e durante esse período o avião caiu. Ou seja, eles mantêm a versão que o desastre se deu na mesma altura. No livro, a cronologia poderás estar mais comprimida e as coisas podem parecer diferentes, mantenho que o período de tempo é o mesmo.
Mas olha, no livro a viagem do Scott de avião é anunciada como uma viagem que ocorreu após a sua saída da empresa(escândalo). Na verdade o avião caiu a 12 de Setembro e o maior torneio onde os jogadores foram enganados foi em Outubro.
Não sei quando ocorreu a discussão sobre o escândalo entre eles, só sei que por essa altura o avião caiu. O timing discutido foi sobre o contar da história e isso é mantido por eles, o avião caiu quando eles já saíam da empresa. Se o press release foi lançado antes ou depois não sei, mas quando embarcaram no avião o Scott e o Hilt estavam de malas aviadas da empresa. Acho que não "datei" estes capítulos, em particular porque os timings não estavam bem definidos. O que aconteceu foi basicamente isto, o Scott é confrontado sobre o escândalo e parte no avião. A press release é enviada à imprensa e diz que se "livraram de alguém que fez batota". Acredito nos timings fornecidos por eles.
Acho que o único motivo para a Haley Hintze ver um problema nisto tudo é ela achar que existia um plano para que o avião caísse, na verdade o avião não tinha dinheiro nenhum lá dentro.
Porque estás tão confiante nessa afirmação sobre não existir dinheiro?
Primeiro, não existem provas. Tudo o que existe são artigos de jornais como o Tiko Times. Tudo começou com um blog a dizer que havia dinheiro no avião, se já leste algum dos meus livros sabes que eu adoraria que existisse dinheiro naquele avião. Escrevi um livro chamado Busting Vegas onde existia dinheiro no avião. Em primeiro lugar a FAA investigou o acidente e o mesmo fez o governo da Costa Rica. Nenhuma destas autoridades reportou a existência de dinheiro, onde estará este dinheiro agora?
Bom, o governo da Costa Rica usou o argumento “dinheiro no avião” para fazer buscas na casa do Scott Tom.
Porque é que ele correu pra fora do avião? Porque é que não foi buscar o seu dinheiro? Já escrevi sobre pessoas que estiveram em aviões com dinheiro, confia em mim, eles voltam sempre para ir buscar o dinheiro. Ninguém deixa 3 milhões de dólares num avião, em especial num que parou numa estrada da Costa Rica. Porque não tiraria ele o seu dinheiro do avião? A ideia nasceu num blog e foi levada para os jornais, todos sabemos como são escritos os jornais. É muito simples escrever um artigo desses, eu posso escrever um artigo desses no Boston Globe amanhã mesmo e a história prolifera na internet.
Se existissem provas da FAA ou do FBI eu acreditava, não existem e isso está no livro. A Haley diz que ele perdeu o dinheiro e depois teve de o arranjar em lado, protagonizando o escândalo, não faz sentido.
Este é um dos meus livros com mais suporte, fiz muita pesquisa e não deixaria passar algo assim em claro, goste-se ou não o que foi escrito foi o que as provas que tive em mãos me fizeram escrever.
O grande ponto de viragem do livro é sem dúvida a parte do Black Friday. Podes falar um pouco sobre essa parte?
Penso que é claro que o que o governo fez é do mais hipócrita que há, não existiam motivos para tal acontecer. Foi a destruição de uma industria através de uma má lei, só pensaram em agarrar aquele dinheiro. O estado de Nova Iorque e o DOJ só pensaram em ficar com aquele dinheiro, mandaram abaixo estas empresas apenas e só com o lucro como meta.
Quando o livro foi lançado aquilo que a imprensa vendia é que os fundadores da empresa eram um grupo de rapazes americanos à procura do seu sonho americano e que foram privados disso pelo governo. O que achas dos milhões de dólares que ficaram em divida aos jogadores, não foi por eles serem assim tão bons rapazes, certo?
Eles foram muito claros com o que se passou. O Brent foi quem mais falou sobre isso porque supostamente foi quem mais esteve envolvido no processo. Em primeiro lugar não vou dizer que não existiram más decisões tomadas pela gerência da empresa, claro que existiram e a isso se devem as dividas. o que digo é que nenhum deles queria que isso acontecesse, foi uma surpresa para eles.
Devido à dificuldade de fazer pagamentos foram usadas empresas "manhosas" que levaram a esta situação. Eles estavam a tentar crescer para competir com a PokerStars e a Full Tilt Poker, assim sendo, a maior parte do dinheiro ia parar ao marketing e publicidade, existiu muito dinheiro mal usado.
Desde o lançamento do livro que apareceu uma cassete áudio datada de 2008 onde se diz que os fundadores ainda estavam envolvidos na empresa em 2008.
Não, acho que nunca nenhum deles mencionou isso comigo. O Scott até pode de alguma forma ter sido consultado nessa altura, eu não tenho nenhuma prova que o mesmo tenha acontecido. O que é que isso altera a história?
No livro escreves que eles deixam a empresa em 2007.
Bom, eles disseram-meentre 2007 e 2008. Disseram-me isso desde o principio e acho que não colide com nada do que me disseram depois. Existe alguém que diz que eles estavam envolvidos em 2008 e isso é intrigante para mim, se calhar até estavam mesmo envolvidos em 2008. Mas estariam envolvidos em 2011? Se calhar, se calhar não. Não tenho provas, a existirem seria óptimo adicionar ao livro. Eles afirmam a pés juntos que não estavam.
Na minha opinião o que aconteceu foi o seguinte: o governo chega e fecha tudo, poucas empresas conseguiriam pagar aos jogadores desta forma. Eles dizem que algum do dinheiro ficou "preso" pelo governo da Costa Rica, não deixaram que o mesmo fosse processado.
O Brent disse-me que quando o governo americano rejeitou o seu plano para pagar $0,75 por cada dólar foi o fim de tudo. Ele culpa o governo, aprendeu a cozinhas na cadeia porque sabe que com o seu cadastro esse será o único trabalho que vai conseguir arranjar quando sair da mesma. Será que o Scott e o Hilt têm dinheiro? O Scott apenas diz que não é pobre mas que não tem o dinheiro que as pessoas acham que ele tem.
Quando entrevistei o Howard Lederer parecia que eles estava numa cruzada para que os jogadores fossem restituídos do seu dinheiro. Tiveste a mesma sensação quando fizeste as tuas entrevistas?
O Hilt e o Scott dizem que não têm maneira de fazer mais nada sobre o assunto. Sentem-se mal pela situação mas não têm controlo sobre a situação. O Brent e o Pete dizem que continuam a tentar encontrar formas de pagar aos jogadores mas o governo americano não os deixa fazer nada. O Scott achava que não devia ter sido processado, perguntou isso mesmo quando recebeu a carta. "Porque estou a ser processado?"
Então o Scott está mais preocupado com o seu bem estar do que em tentar negociar algo para pagar aos milhares de jogadores que perderam o seu dinheiro, certo?
Ele diz que não tem qualquer controlo sobre a empresa, como poderá ele negociar o que quer que seja? Ele não é o CEO da empresa, como é que iria negociar? A questão aqui é que o mercado não era regulado...
Bem, era regulado, supostamente, pela Kahnawake Gaming Commission.
Se a raiva está direcionada à Kahnawake eu compreendo, é necessário culpar alguém. Se quiseres culpar o Scott e o Hilt tens de provar que eles estavam lá nessa altura. Podes também tentar culpar o Brent e o Pete, eles tentaram fazer um acordo e não conseguiram. Eu compreendo que é muito chato perder assim o dinheiro, tenho amigos que perderam, é horrível. Eu culpo o governo por não regular esta industria, se a mesma fosse regulada a sério nada disto teria acontecido.
Já falaste com eles depois do livro ter sido publicado, o que acham eles do livro?
Na maior parte das vezes eles acham que foram bem tratados, mas por vezes dou uma entrevista e recebe um telefonema mais acalorado. outras vezes recebo um telefonema mais bem disposto, depende da entrevista. Acho que o maior problema do Scott quando eu dou uma entrevista é sobre a quantidade de dinheiro que ele tem. Quando me liga às vezes pergunta: "porque teria eu mentido?"
Eles ficam contentes por esta industria ter exposição, antes deste livro acho que o Black Friday não tinha tido muita atenção dos media no geral. Eu já fui ao Today Show e ensinei-os a jogar poker, disse também que o poker online deveria ser legal.
Poderemos esperar um filme sobre o Straight Flush?
Existe muita gente interessada mas ainda não vendi os direitos. Uma das questões prende-se com o fato do Runner Runner estar a sair e as pessoas quererem ver o que vai sair dali.
Que tipo de alterações esperarias ver caso o filme se transformasse em ?
Os filmes precisam de vilões, o Scott seria muito provavelmente transformado em vilão. Acho que o Runner Runner é isso, o Scott é o Ben Affleck. Eu não teria nenhum controlo sobre a situação, assim que vendesse os direitos. Alguém iria escrever o filme e eu seria apenas um consultor.
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