Torneios ou poker ao vivo?
Quando comecei a jogar para viver, um pouco mais de sete anos atrás, alguns peritos em poker exclamaram que, ao contrário do que possa parecer o dinheiro não está nos torneios mas no ring. Enquanto a maioria das pessoas considera que as estrelas dos torneios são os melhores dos melhores – não em último lugar porque têm as suas fotos nas revistas – parece que o principal objectivo de todos os jogadores seria tornarem-se os melhores jogadores de torneios. Mas as pessoas que estavam mesmo por dentro do poker sabiam melhor. Por causa dos custos das entradas (na altura os jogadores tinham de pagar do seu próprio bolso), por causa dos custos da estadia e da viagem, por causa das gorjetas, por causa das variações dos torneios de poker, por causa disto tudo, não haveria muitos jogadores que pudessem viver dos torneios de poker durante muito tempo. Ainda havia menos jogadores que conseguiam ter uma vida folgada.
Em contraste com estes jogadores famosos que pareciam estar a se dar bem, mas que na realidade lutavam para ter uma vida decente com lucros a longo prazo, havia aquelas pessoas desconhecidas do público, mas que na verdade eram aquelas que faziam bom dinheiro. Estes profissionais de ring eram muitas vezes encontrados nos grandes jogos, e especialmente quando conseguiam transmitir a imagem de jogadores fracos perante os ricos, podiam fazer fortunas – e muitas vezes era o que acontecia. Durante anos este status permaneceu. Havia um grupo de estrelas dos torneios que atraiam todas as atenções mas que não faziam muito dinheiro, e havia um maior número de profissionais que não atraiam muita atenção, mas que faziam bom dinheiro. Por isso quando comecei a jogar para viver, escolhendo entre torneios e jogar ao vivo não foi muito difícil. Tomei – para mim – a opção correcta de jogar onde o dinheiro se encontrava: em jogos ao vivo, significando que pura e simplesmente deixei de jogar os torneios.
Algumas mudanças recentes
Mas as coisas começaram a mudar um pouco, mesmo que devagar. No principio não notei, por isso continuei com o meu lema "os torneios são para a fama, e os jogos ao vivo para ganhar dinheiro", mesmo quando para mim a situação já se tinha tornado claro que tinha mudado. De repente os melhores jogadores de torneios já não tinham de pagar as inscrições nos torneios, já não tinham de se preocupar com os custos das viagens e estadia (uma vez que os sponsors tomam conta de todos estes aspectos), e quando as televisões começaram a se interessar por transmitir poker na televisão como um desporto, mais e mais dinheiro começou a entrar na comunidade de poker, e eram as estrelas que ficavam com a percentagem de leão – não os jogadores de ring. De facto, embora durante estes anos tenha ganho muito bom dinheiro, sei que existem jogadores europeus que ganham mais com um sponsor do que eu durante um ano inteiro! Este fluxo de entrada de dinheiro fresco e o envolvimento da televisão, não só na América, bem, como na Europa, leva a que a maioria dos jogadores se concentre nos torneios, e onde já não se pode esperar um crescimento do ring – embora o poker como um todo esteja a crescer exponencialmente. Uma vez que os jogadores de poker ao vivo também começaram a jogar na Internet, é natural que o número de jogadores de ring ao vivo não tenha crescido tão exponencialmente como o poker na internet e como os torneios ao vivo. Na verdade em alguns lugares parece que não há crescimento em ring ao vivo: muitas salas de poker na Europa têm uma existência marginal, e os casinos que têm mais 5 mesas abertas são a excepção e não a regra – mesmo nas maiores capitais europeias. Por causa destas mudanças e desenvolvimentos, seria impossível manter a antiga máxima de que o dinheiro está no ring e não nos torneios. (Dito isto, os bons jogadores de ring continuam a ganhar bom dinheiro, especialmente as pessoas que jogam nos limites altos em Inglaterra e França por exemplo, podem ainda ter um bom rendimento. Também os jogadores que jogam ring ao vivo e que agora concentram-se em jogar na Internet, podem agora fazer mais dinheiro do que no passado, por causa da constante possibilidade de bons jogos na Internet. Lembre-se que esta discussão centra-se na Europa. O recente crescimento nos EUA levou a que também o poker ao vivo tivesse um grande crescimento, fazendo com que mais salas de poker abrissem as suas portas e mais mesas).
Ao todo é de notar que hoje em dia existe muito dinheiro para ser ganho no poker para aqueles jogadores que não queiram ficar agarrados aos conceitos do passado. Todos aqueles que têm uma abertura às coisas novas, têm tirado lucros destas novas características, e com as possibilidades que este dinheiro fresco tem possibilitado. Demorei algum tempo até me aperceber de que tinha-me concentrado nas coisas erradas durante demasiado tempo, mas recentemente decidi saltar para a carrinha e apanhar a boleia. Enquanto que no principio isto era devido maioritariamente ao facto de eu ser repórter de televisão e fazer os comentários de poker para a Eurosport, estou no momento no processo de assinar um de dois contratos que poderão mudar muito a visão que eu tinha sobre o poker. Mas tal como na vida real, no poker uma pessoa tem de manter sempre um olho aberto nas novidades. Penso que demorei muito tempo a me aperceber das recentes mudanças – mas agora que estou alerta, quero tirar dividendos das diferentes possibilidades, e explorá-las ao máximo.
Algumas palavras finais
No seguimento deste artigo, irei focar-me num ponto relacionado a este respeito: "Poker ao vivo ou poker online?" Uma vez mais, irei analisar o meu desempenho em ring, os prós e contras do poker ao vivo versus poker online (e vice versa), e as mudançsa de atenção que podem ou poderão ser necessárias para que a velha guarda de jogadores como eu.