Devem estar a brincar!
Parti-me a rir quando a PokerNews do meu amigo Tony G me pediu para escrever um artigo sobre estratégia de poker online e sublinhar as principais diferenças do tradicional jogo cara-a-cara.
Será que eles não sabiam que a minha obra-prima de 1,500 palavras que tinha sido publicada sobre esta matéria era a favorecer o jogo ao vivo?
Curiosamente, o meu último parágrafo desse artigo foi omitido. Assim escrevi: "Por isso concluo com uma das minhas comparações preferidas, Bilhar Americano e Snooker Britânico – Jogo diferente, estratégia diferente, bolsos mais fundos e bolas maiores!"
Ainda mais estranho, as cópias foram para dezenas de milhares dos seus clientes online e o artigo foi publicado!
É claro que desde aí muita coisa mudou, e o poker na Internet é a maior criação de todos os tempos. Não, os directores da companhia que me patrocina não se engasgaram nos seus cereais ao ver o meu "salário" e começaram a congeminar a melhor forma de terminar o meu contrato de patrocínio por fazer uma afirmação destas.
Estão a ver porque honestamente já consigo apreciar passar os serões em frente de um ecrã a carregar em botões. E tem tudo haver com uma recente vitoria de $50,000 num torneio e os consistentes lucros em jogos a dinheiro de Omaha.
Contra as probabilidades
Olhando para trás, acho que não gostava de poker online por causa de más jogadas e maus jogadores, a ter sorte em mãos em que eles nem se deviam ter metido.
É claro que é ideal ir contra uma mão em que somos 2/5 favoritos (JsJh vs QdTc por exemplo) mas em qualquer tipo de jogo, estas mãos também perdem e teremos que ter muita sorte para passar um torneio inteiro sem que a pior mão não vença.
Um dia, quando a Internet era uma coisa má, tinha eu A♦Q♦, e apostei fichas suficientes para ir só com mais um jogador. Fiquei encantado ao ver o flop 10♦J♠K♦, um sonho na verdade.
Agora digam-me, nesta jogada tendo a melhor sequência e a possibilidade do melhor flush, quanto é que eu perderia neste pot?
Mas acabei por perder quando o meu adversário fez raise a minha aposta mínima no flop. Interpretei isto como um pedido de acção, e achei que ele tinha um three-of-a-kind ou até talvez também tivesse feito uma sequência, eu fiz re-raise all-in e vi que ele já tinha carregado na caixa do "call". Ele tinha um par de noves e saíram dois Reis seguidos para lhe dar um full-house! Que pesadelo.
Era uma mão em que as probabilidades eram de 1/33, o que irritaria até os mais calmos dos jogadores, apetecendo jogar o monitor da janela e esperar que bata na cabeça de um riquinho como aquele que acabou de te expulsar do torneio.
Não desesperem
Mas na verdade que podemos esperar dos jogos na Internet? A maioria dos jogadores do cyberespaço são aprendizes do poker da televisão, onde vêem os chamados melhores jogadores a chamar all-ins com QK ou a fazer all-in com um par de 3.
Infelizmente este tipo de jogadas já se tornou muito familiar nos nossos ecrãs, porque estes jogos televisionados são geralmente jogos de 6 lugares em que as blinds sobem muito rápido e que ao quarto ou quinto nível a perícia já não é tão utilizada.
Estes factores são desconhecidos para o novato, e não perceberá as complexidades da posição, timing, e arriscar quando se tem "pot-odds".
A frustração num all-in no início de um jogo quando temos AK suited e alguém faz call com um par de 2 é enorme. É geralmente depois de o par de 2 ganhar que vemos na caixa de diálogo "Que achavas que eu tinha?"
Aqui, factores como estar a ir contra qualquer par, que é muito possível, fazem com que estejamos em desvantagem de 4/1 e contra duas cartas mais altas (que tem que ser o caso, se não tivermos um par) sou um favorito com muito pouca vantagem no melhor dos casos.
Tenho tendência a achar que o nosso próprio jogo pode sofrer consequências por isto, porque em breve vamos estar a fazer call a all-ins com um par de 5-5 porque incidentes como o que acabamos de falar estão frescos na nossa memória e vamos pensar que ele deve ter um par de 4 porque é isso que queremos que ele tenha.
É melhor ter sorte ou ser bom?
Agora entramos num novo território, más jogadas da nossa parte por causa das más jogadas à nossa volta; teorias do tipo "se ele joga mal e tem sorte, eu também posso jogar mal e ter sorte" devem estar no top dez do erro de entrar em tilt. Era neste ponto em que eu estava.
Mas caso tenha me esquecido de dizer no inicio, recentemente ganhei uma quantia considerável num torneio on-line. E este foi um ponto de viragem para mim, foi como um Americano ter passaporte e usá-lo na realidade, ou um católico a encontrar Jesus.
Mas a única coisa que percebi foi que jogar bem irá, eventualmente, vencer todos os maus jogadores à sua volta.
Mas o que é jogar bem? Sabemos que foram escritos livros de 300 páginas na tentativa de melhorar os jogadores mas falharam redondamente, por isso o meu conhecimento limitado e umas páginas não vão mudar nada.
Por isso vamos chamar-lhes os "momentos decisivos" durante esse torneio de 2,000, que me lembro muito bem apesar das 9 horas em frente do ecrã.
Situação:
Faltam duas mesas e as blinds são 10,000/20,000; as antes são de 500 (cegas postas por todos os jogadores em todas as mãos); a stack média é de 277,000 porque estão 18 jogadores em jogo e estão 5 milhões de fichas em jogo: eu tenho 280,000.
Na big blind com 10♠8♣ vejo que o jogador no button fez all-in com 72,000 fichas e todos fizeram fold.
São 52,000 fichas para chamar com a minha mão fraca, é um fold automático?
Bem, um fold ponha-me ligeiramente abaixo da média mas sem motivo de grande preocupação. Um call e perder faria com que ficasse com 207,500 e uma ligeira indigestão.
A dúvida são os 52,000 que posso perder (já que os 20,000 da big blind já estão no pot). Por estes 52,000 posso ganhar os 72,000 do meu adversário, a big e small blind que são mais 30,000 e 4,500 de antes – ou seja 106,500 dando-me 2/1 do meu dinheiro.
Com estas contas feitas tenho que pensar o que o meu adversário pode ter.
Mais de 1,980 jogadores já perderam e presumo que os restantes têm um bom entendimento do jogo, e devem saber usar coisas como fazer raise no button, especialmente com poucas fichas, com apenas carta alta.
Mãos prováveis do adversário:
A) Isto faz pensar que o jogador apenas tem um Ás e pensa estar na frente mas nem quer ver um flop. Suspeito que este seja o caso. E apesar de não saber a outra carta, espero que seja um 7 ou mais baixo e as percentagens dão-me razão.
B) Depois do Ace-high tenho que pensar numa mão tipo KQ, KJ, K9, Q9 ou qualquer coisa do tipo (a hipótese de ser KT ou QT são menores por eu ter um dez).
C) Não acreditando que ele fosse all-in com AA, KK, ou até com QQ, posso também pensar num par pequeno como 22, 33, 44 etc.
D) A minha quarta hipótese é de que sejam suited connectors. Estas mãos estão a transformar-se cada vez mais populares por cada vez mais pessoas se aperceberam que estas são favoritas para bater um par mais baixo. Ao ter T8, e apesar de pouco provável, caso ele tenha T9 ou TJ as minhas hipóteses de ganhar esta mão diminuiriam drasticamente.
E) Depois a hipótese de ele ter um par mais alto.
F) Um par específico como 99 é uma hipóteses de 220/1 mas não seriam tudo más noticias mesmo tendo apenas uma carta mais alta.
G) Cartas iguais como TT, 88 são simplesmente pouco prováveis.
A probabilidade aproximada de T8 ganhar contra:
A)AK, AQ, AJ: 36% 7/4
Ai) A7, A6, A3: 43% 11/8
B) KQ, KJ: 35% 15/8
C) 22, 33, 44, 55, 66, 77: 49% 1/1
D) 67, 56 suited: 60% 4/6
Di) 78, 89 suited: 66% 1/2
Dii) 9T, TJ suited: 28% 5/2
E) JJ, QQ, KK: 16% 5/1
F) 99: 29% 5/2
G) TT: 11% 8/1
Gi) 88: 34% 15/8
Como disse, eu desconfio que mão do button seja algo como um ás sozinho (cenário A) e independentemente do kicker, se for este o caso, a probabilidade de eu vencer será de 2/1 que é o que tenho que investir neste pot.
O mesmo pode ser dito para o QK e um par mais baixo; aliás as únicas mãos que não me dão pot-odds para fazer call são aquelas que eu desconfio que ele tenha. O resultado é por isso um call automático.
Infelizmente foi também, uma derrota automática porque não consegui vencer o A7!
Situação 2:
Ao chegar à mesa final, fico pasmado quando o meu AJ vai contra um AA. O confronto deixa-me com 105,000, muito abaixo da média de 555,000 (estavam 9 jogadores), logo fico em guerra com os meus dedos para não carregar no botão de all-in em jeito de tilt.
Vou deixando passar mãos como 23, 49, 27, 36 e vou pondo antes de 1,000, quando me vem A2 na big blind (40,000).
Um dos primeiros jogadores a falar faz all-in e chega a minha vez. As minhas hipóteses são de novo simples: fazer call com as minhas últimas 60,000 fichas com a hipótese de ganhar 100,000 do adversário, 20,000 da small blind e 9,000 de antes, o que dá um total de 129,000 o que me dá 2/1 do meu dinheiro.
Até mais simples, se o pot ficar em 229,000, significa que as minhas 100,000 fichas dariam 5/4 do total.
Aqui, a segunda escolha (a de fazer fold) não pode ser uma escolha, simplesmente porque já tenho muito no pot, e na próxima mão sou a small blind de 20,000.
Alguns iriam aceitar na esperança de que durante a próxima volta um dos jogadores perdesse, já que o oitavo ganha mais $3,000 que o nono (lugar que já dá um prémio de mais de $5,000) e o sétimo mais $3,000 que o anterior.
Pessoalmente, não jogo torneios apenas para ganhar o dinheiro mas também porque sei que temos que perder batalhas para ganhar a guerra, e de que nunca vamos para a guerra se nós próprios nos deitamos a perder.
Mais uma vez vejo se as pot-odds (as minhas últimas fichas e as possíveis mãos do meu adversário) dizem que devo fazer call.
Mãos possíveis do adversário:
De certeza que se trata de uma boa mão, que se enquadram nas duas primeiras categorias, A) um par alto ou B) um às com um kicker bastante alto.
Será que ases teriam sido jogados desta forma? Duvido, mas AK podia ter sido jogado desta forma e esta mão (a de um ás com um kicker alto) é a pior que posso ir contra.
A probabilidade aproximada de A2 ganhar à:
A) AA 7.4 12/1
Ai) KK, QQ 28.8 5/2
B) AK, AQ, AJ 26.8 11/4
Batalhas e guerras aparte, não vale o risco, com hipóteses de 5/2 quando a vitoria só paga 5/4.
Ainda confiante de que se tratava de um ás "alto", era capaz de ter feito call com algo tipo TJ suited porque as probabilidades de vencer eram muito mais correctas.
Parece ser estranho fazer call a um all-in com T8 e depois passar um com A2 mas espero que as explicações anteriores possam fazer com que percebam as razões de tais jogadas, e que ajude no seu jogo.
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