Estratégia Poker: Draws falhados e mãos feitas
Vamos colocar você a coçar a cabeça com esta pergunta:
Você fez call a um raise na small blind, apanhou o par mais alto no flop. Você faz call a apostas no flop e turn com um certa incerteza, mas fica mais contente quando vê sair uma grande carta no final. O river dá-lhe os dois pares mais altos e provavelmente você tomou a dianteira. Se o pot tem neste momento 10,000 apostas quanto é que deve apostar para valorizar o pot?
Você apenas acerta se disser, "Não sei, preciso saber a minha mão e as cartas que estão na mesa." Vamos ver como as coisas mudam nestas duas situações:
1) A sua mão é K♠Q♠, e as cartas na mesa são K♣J♦8♥7♣Q♠
2) A sua mão é K♠Q♠, e as cartas na mesa são K♦3♦2♣7♣8♥
Em ambas as ocasiões apanhamos o rei no flop para o par mais alto e fizemos os dois pares mais altos no fim. Mas eu iria tão longe dizendo que as diferenças são tantas que no 1º exemplo deveríamos apostar apenas 3,500, e ate 10,000, o valor do pot, no segundo exemplo.
Quais são as diferenças entre estas duas jogadas?
Qualquer diferença geralmente varia consoante a textura das cartas na mesa. Na primeira jogada a mesa está cheia de cartas altas, não há hipótese de haver draws falhadas no river. Mesmo no turn não há flush draw, e o straight draw existente com 10♠9♠ saiu. Uma mão como Q♠10♠ falhou o straight mas apanhou um par, e por isso um jogador não seria inclinado a fazer bluff.
Draws falhados na jogada 2 são em abundância. Uma mão como 4♥5♥ falhou o straight por completo, e a partir do turn existem dois flush draws falhados.
A diferencia é que um bluff parece mais provável no 2º caso e um adversário razoável definitivamente iria notar isso.
Mãos feitas
A diferença crucial entre estas duas jogadas é o número possível de mãos feitas disponíveis. Jogada 1) tem cartas muito conectadas (próximas), três cartas na zona (10 ou mais alto). Podemos presumir que o outro jogador tem uma mão inicial típica tal como você, por isso existem muitas possibilidades para um trio, dois pares ou straight.
Na jogada 2) a mesa é desconexa em comparação à 1ª; uma aposta confiante de 10,000 não encaixa com muitas mãos, por isso provavelmente será interpretada como um bluff.
Podemos ser ainda mais específicos, e falar não apenas mãos feitas disponíveis, mas as mãos que encaixam no nosso padrão de apostas – os call conservadores seguidas de uma aposta no final em ambos os casos sugerem que o river alterou a nossa mão. Isto é uma história difícil para o nosso adversário acreditar num 8♥ aparentemente inócuo no river, o que significa que é realmente uma carta muito boa para sair.
Quantia a apostar como value-bet
A grande diferença em value-bets que eu tenho sugerido é em parte devido ao facto de na jogada 1) não podemos ter a certeza de que o par mais alto está a ganhar, por isso nos protegemos mantendo as apostas baixas.
A razão principal tem haver com a percepção da mão. Na mesa da jogada 1), sem draws falhados e muitas possibilidades de mãos feitas, um adversário decente saberá que devemos ter algo.
Imaginemos que o nosso adversário tem A♦K♦ para o par mais alto – o que é realmente uma mão marginal com estas cartas na mesa. Uma value-bet elevada diria realmente a verdade – que a nossa é muito forte – e permitiria que ele fizesse fold. Uma value-bet de 3,500 é praticamente impossível ao nosso adversário fazer fold, por colocar a nossa mão num raio muito maior de mãos possíveis – muitas das quais ele consegue bater.
Na jogada 2) o nosso adversário dificilmente acreditará que aquilo que a nossa elevada value-bet esteja a falar a verdade, que temos uma grande mão. Poucas mãos feitas possíveis e muitas draws falhados significam que ele provavelmente irá nos pagar. De facto é mais provável é ele nos pagar 10,000 do que pagar 4,000. Uma pequena aposta de 4,000 não parece ser um bluff, e poderá alertar o nosso adversário para o facto de realmente termos algo permitindo que ele faça fold ás mãos mais fracas.
A relação entre as mãos feitas e os draws falhados
Nenhum jogador alguma vez o calcula como um número, a ideia de relação entre mãos feitas e draws falhados é algo que os bons jogadores têm noção. (Não se preocupes com a linguagem matemática, a relação apenas necessita ser tão simples como: de poucos para muitos ou muitos para poucos). Aqui estão dois exemplos:
Muito alto - Muitas mãos feitas, nenhum draw falado
A♣K♥J♦9♠8♥
Muito baixo – poucas típicas mãos feitas, muitos draws falhados
3♠4♠8♣7♣Q♥
Como irá isto influenciar as nossas decisões?
Esta relação é o ponto fulcral de quanto o nosso adversário pensa que estamos a fazer bluff. Com elevadas mãos feitas e poucos draws falhados, o seu adversário terá a tendência de pensar de acreditar em você, e vice-versa.
Imaginemos que você tinha uma mão fraca como A♣J♣(3º par) na jogada 1). Uma jogada audaz seria apostar 10,000, para tornar a sua mão num bluff. Se o seu adversário aplicar esta lógica, ele saberá que você não poderia estar a fazer bluff com nenhuma mão. Se ele não suspeitar desta jogada invulgar de transformar uma mão marginal num bluff, ele irá dar-lhe créditos a uma mão muito forte.
Value-betting é uma parte do poker que vai de mão dada com o bluff, e de facto funciona como um reflexo no espelho. Onde o seu adversário irá dar-lhe valor à ideia de estar a fazer bluff, como na jogada 2), deverá aumentar as suas value-bets com mãos fortes. Esta mudança significa igualmente que você deverá reduzir as value-bets com mãos mais fracas em mesas como na jogada 2), poderá até conseguir 4,000 ao seu adversário com mãos como K♠4♠ (par mais alto sem kicker), se acreditar que está à frente de uma mão como J♦J♥.
Contrariamente, onde não há hipótese de estar a fazer um bluff, tem que convencer o seu adversário a fazer call fazendo uma pequena aposta.
Nota Ed: Stuart Rutter é um jogador regular no EPT da Poker Stars.