Torneios de Poker com Jeremiah Smith: Confiar nas suas Leituras, Segunda Parte
Na altura parecia fazer sentido. A minha mão era inconsequente – ia usar as minhas capacidades de leitura e ganhar o pote. Senti que estava a ler o adversário da forma certa, e acreditei que dar call com quaisquer duas cartas desde que com posição poderia ser proveitoso para mim. Ao contrário do que previa a minha tentativa de jogar contra o Albert Kim estava quase a correr mal.
Para ser justo, a mão estava inserida num determinado contexto. O poker é um jogo de situações/contextos; vi-me no meio desta situação porque andei a ganhar potes a este jogador no último par de níveis. Pensei que poderia continuar a fazê-lo, ele gosta de jogar muitas mãos em qualquer posição e pensei que ele queria algum protagonismo na TV table quando fez raise UTG na primeira mão jogada (no final parecia que era eu quem estava à procura do tal protagonismo).
Mas Kim não era nenhum donk; daquilo que percebi, ele era um regular de medium stakes no-limit na zona de Los Angeles. Ele abriu o pote UTG e eu dei call em posição com uma mão horrível, que nunca se deve jogar nesta fase do torneio, 6-3 suited. Nesta situação eu não estava interessado em acertar no flop, a minha ideia era ganhar o pote se visse algum tipo de fraqueza no adversário.
Contudo, quando olhei para a board ela mostrava T-6-4 e Kim fez algo que eu nunca tinha visto antes. Lembrou-me um movimento que a Samantha do "Bewitched" costumava fazer com o nariz, a diferença é que ele o estava a fazer com a boca. Toda gente faz algum tipo de movimento quando está nervoso, esta é a premissa básica para ler tells físicos. Como nunca tinha visto Kim fazer isto assumi-o como uma forma de mostrar fraqueza. Claro que acreditei na minha read e fiz raise. Em vez do fold que eu esperava que Kim fizesse, ele faz de novo o movimento com a boca e anuncia re-raise, metendo grande parte da sua stack no meio da mesa. Aquele é o movimento que se faz quando se acerta top set no flop.
Whoops.
Pouca sorte a minha, das centenas de mãos que joguei no Main Event, a que estava a jogar da pior forma estava a ser captada pela ESPN. Quando o Lon McEachern disser: " Smith vai fazer raise com o seu mísero par de 6" será a altura em que vou parecer um donk completo. Eu estava a jogar bem e não tinha necessidade nenhuma de estar nesta situação com aquele tipo de mão.
Um dos problemas de confiar excessivamente nas capacidades de leitura, é que nos esquecemos que por vezes os nossos adversários têm mesmo boas mãos. Gastei 150,000 fichas para tentar ganhar um pote onde nem sequer devia ter entrado. Estava muito deep no torneio para andar a "inventar" com este tipo de mão.
E como não correu bem da primeira vez, se calhar vou tentar novamente mais tarde. Este excesso de confiança levou-me a "doar" quase um terço da minha stack de 1,4 milhões, até voltar a controlar-me e ajustar o meu jogo. Se tivesse tido calma e não tivesse estragado aquelas fichas poderia ter acabado o dia com quase 2 milhões de fichas e não com quase 1 milhão como foi o caso, e quem sabe se teria sobrevivido aos coolers e bad beats que levei no Dia 5.
Existem vários problemas na minha abordagem a esta mão. Nunca pensei no range do Kim, nunca pensei que ele pudesse ter mais que um bluff e nunca tive em conta o factor risco/retorno. Estava a jogar uma mão que não devo jogar nesta fase do torneio, porque estava cheio de confiança após ter acertado várias reads no início do torneio.
No meu último artigo falei da importância de acreditarmos nas nossas reads. Neste caso particular ficou demonstrado que é perigoso confiar em demasia nas mesmas. Devemos deixar que a capacidade de ler tells físicas e padrões de apostas completem o nosso jogo, e não que nos façam tomar más decisões. Lembrem-se sempre que no final as cartas falam mais alto e a melhor mão vai ganhar sempre.