18+. Jogue de forma responsável. ICAD

Srij Gordon Moody ICAD 18+

Quando os Deuses do Poker fazem justiça – relembra o slowroll mais polémico da história

Augusto Silva
Editor Chefe
Matthew Pitt
Matthew Pitt
4 min. de leitura
Slowroll no Irish Open

Imagina chegares à mesa final do Main Event do Irish Open, com poucas fichas, acertas o nuts no flop e o teu adversário coloca-te all-in. Claro que dás snap call, certo? Certo?! Nem te passaria pela cabeça pensar sequer um segundo, quanto mais fazer slowroll ao teu adversário — ainda por cima se o adversário for Donnacha O'Dea (foto de capa), lenda do poker irlandês e, provavelmente, o homem mais respeitado e querido da sala.

Já deves ter adivinhado: isto não é um cenário hipotético. Foi exatamente o que aconteceu, há dez anos, na mesa final do Main Event do Irish Open 2015, naquele que é, para muitos, o slowroll mais famoso (ou infame) da história do torneio — e talvez do poker.

Foi David Lappin quem recuperou as imagens nos arquivos e as partilhou na sua conta do X (antigo Twitter). Podes ver o vídeo abaixo:

"The Don" e o slowroll que ninguém esqueceu

Donnacha O'Dea, carinhosamente apelidado de "The Don", é uma das maiores figuras do poker irlandês — e com estatuto de lenda entre toda a comunidade. Na mão em questão, O'Dea abriu em mini-raise para 100.000 com A6. Andreas Gann, jogador alemão sem registos anteriores no The Hendon Mob, deu call na small blind com KQ, ficando com apenas cerca de 3,5 big blinds atrás. O jogador na big blind fez fold, e o flop trouxe 6A8 — Gann acertou o nuts e O'Dea dois pares.

Gann deu check e O'Dea empurrou um monte de fichas — suficiente para colocar Gann all-in se este pagasse. Esperava-se um snap call… mas Gann tinha outros planos.

Em vez de snap-call, entrou no tank. E ficou lá. Mais de um minuto. No meio da mesa final de um torneio emblemático, diante de uma figura histórica do poker local, Gann protagonizou um dos slowrolls mais polémicos de sempre.

Fazer slowroll é algo geralmente mal visto — e naquele momento, as expressões dos restantes jogadores disseram tudo. Kevin Killeen, que viria a terminar em segundo lugar, não escondeu a indignação. Do lado do livestream, os comentadores Emmet Kennedy, David Lappin e Fergal Nealon ficaram boquiabertos.

Acompanha o Irish Open 2025 na PokerNews

"Horrível", "vergonhoso", "uma desgraça" — foram apenas três das palavras usadas pelos comentadores para descrever o que se estava a passar na mesa.

Donnacha O'Dea manteve-se em silêncio e imóvel durante todo o episódio, como o verdadeiro cavalheiro que é.

Todos — menos Gann — esperavam que os Deuses do Poker fizessem justiça e melhorassem a mão de O'Dea para um full house. Mas com apenas quatro outs possíveis, essa hipótese parecia altamente improvável.

O dealer queimou uma carta e virou um sete no turn — sem ajuda para O'Dea. Mais uma carta queimada... e o seis no river completou o milagre. O'Dea fez full house, mandou Gann para casa na 8ª posição, e os restantes jogadores na mesa e o rail foram à loucura. Foi feita justiça!

Gann garante que não quis faltar ao respeito

Andreas Gann
Accidental slow-roller Andreas Gann

Segundo Rich Ryan, antigo editor da PokerNews, depois dos assobios se dissiparem e a tensão baixar na sala, Fergal Nealon — um dos comentadores — aproximou-se de Gann para lhe perguntar porque achava que era boa ideia fazer slowroll a Donnacha O'Dea.

Para surpresa de Nealon, Gann não fazia ideia de que tinha feito algo errado e mostrou-se genuinamente confuso com a reação negativa da plateia. Como já referido, Gann não tinha registos prévios em torneios ao vivo, pelo que é justo assumir que lhe faltava experiência e que, de forma ingénua, achava que não estava a fazer nada de mal.

Gann confessou a Nealon que sabia que a família e amigos estavam a vê-lo jogar em direto, e por isso quis tornar o momento mais dramático e emocionante para quem assistia em casa — mas garantiu que nunca foi sua intenção faltar ao respeito a O'Dea ou aos restantes jogadores.

Nealon sugeriu que Gann pedisse desculpa a O'Dea — e, em boa verdade, Gann assim fez. Teve a humildade de voltar ao palco e apertou a mão à lenda irlandesa.

Donnacha O'Dea acabaria por terminar o torneio na 6ª posição, com um prémio de €61.850, enquanto a vitória ficou nas mãos de Ioannis Triantafyllakis, da Grécia, que levou para casa €209.500 após acordo no heads-up com o já mencionado Kevin Killeen.

Share this article
Augusto Silva
Editor Chefe
Matthew Pitt
Matthew Pitt

Mais notícias

Outras Histórias