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O Impacto da sorte nos torneios por Tomé tcmoreira Moreira

Tomé Moreira
Tomé Moreira
3 min. de leitura
tomé moreira

São frequentes as demonstrações de tristeza nos lobys dos torneios após as eliminações. Discurso comum: não tenho sorte nenhuma, nunca vou ganhar nada. Será verdade que a sorte pode ser o principal responsável pelo nosso fracasso nos torneios? Este texto pretende reflectir sobre este tema, mas adianto já que a resposta é um claro SIM.

Longo prazo?

É comummente aceite que o poker é um jogo de habilidade e aptidões influenciado por factores aleatórios aos quais chamamos sorte. Toda a nossa experiência e qualidade pode não valer de nada se na altura decisiva do torneio, perdermos numa situação em que éramos 80% favoritos. É de difícil aceitação e a nossa agonia começa…

O principal problema dos torneios é que eles são frequentemente decididos em apenas uma ou duas jogadas e, numa jogada, pode acontecer um pouco de tudo. Obviamente, compreendemos que, a longo prazo, as melhores soluções terão um expectativa bem mais positiva que as decisões medíocres num torneio de poker. Mas o que é o longo prazo nos torneios de poker ao vivo?

Consideremos um jogador regular dos maiores circuitos que passam pela Europa (EPT, WPT, WSOPE, Partouche, etc…). Bem aproveitado o tempo, ele vai conseguir jogar, em média, um torneio principal a cada 15 dias o que dará uma soma total de 26 torneios anuais. Ora, muitos jogadores de torneios online fazem 26 torneios num dia! Por isso, em torneios ao vivo o longo prazo pura e simplesmente não existe.

Isto explica porque se vê muita gente com qualidade excepcional nos EPTs e que ainda não estiveram perto de ganhar alguma coisa. No entanto, continua a ser verdade que um bom jogador precisa de menos sorte que um jogador menos apto para ser bem sucedido num torneio.

Enquadramento social

Desde muito cedo, foi-nos incutida a ideia de que a nossa competência seria responsável pelo sucesso profissional e que, da nossa evolução dependeriam directamente os nossos resultados e a nossa posição social futura. Este dogma educativo vai-se abalando gradualmente quando vemos um colega de turma a tirar melhor nota do que nós porque conseguiu copiar bem ou roubou previamente o teste ao professor ou quando o colega de trabalho é promovido porque conseguiu entrar no circuito de jantares do patrão ou porque utilizou a nossa ideia naquela apresentação em que estava o chefe.

Também neste contexto da sorte, o poker apresenta uma perspectiva exponencial relativamente ao que nos é oferecido no dia-a-dia pela sociedade e pode ser um bom instrumento de treino e aprendizagem para as nossas vidas.

Soluções

Apesar de não parecer, não é a primeira vez que toco neste assunto neste blog. A diferença é que normalmente uso um termo que gosto mais: variância. Mas, na verdade, variância e factor sorte são a mesma coisa. Não nos resta outra alternativa senão encarar os torneios em que a pouca sorte ditou a nossa eliminação com calma e serenidade e tentar reflectir sobre o que poderíamos ter feito melhor com a certeza de que, se continuarmos a praticar as melhores decisões, estaremos mais perto daquele torneio em que a sorte finalmente nos vai sorrir porque, como dizem os nossos avós, a sorte também é de quem a procura.

Tomé tcmoreira Moreira jogador profissional da Betfair Poker

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