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Representar Mãos com Shaun Deeb

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Kristty Arnett / Equipa PT.PokerNews
7 min. de leitura
Representar Mãos com Shaun Deeb 0001

Shaun Deeb é conhecido pelos seus incríveis resultados em torneios, bem como pela sua capacidade de usar a estratégia a seu favor. Há poucos dias ele viajou para o Mónaco para disputar o Main Event do European Poker Tour Grand Final, e também para competir nalguns torneios paralelos. Ele falou com a PokerNews sobre uma mão interessante que jogou, e que diz bem com o tema desta semana: Representar Mãos.

Torneio: €5.000 buy-in 6-max
Blinds: 100-200 com ante de 25

Mão

Na alturas, eu tinha 70.000 fichas e a média estava nas 30.000, por isso tinha já muitas fichas para aquele momento. Estava a abrir um número considerável de potes, e nesta mão, eu abri com raise para 525 com QJ no hijack. O rapaz à minha esquerda com cerca de 30.000 deu call, o botão também deu call, o small blind call e o big blind também call.

O flop sai kt7 rainbow. O small blind aposta 1.550, ficando com 25.000 atrás. Bib blind fold, e eu call. Podia ter feito qualquer movimento com uma board rainbow. Contra uma grande parte de adversários considero sempre o raise. O botão muito rapidamente fez raise para 3.500, o que é um movimento bem forte considerando as nossas stacks e as cartas da board. O small blind demorou um pouco a responder mas acabou por dar call. Neste ponto eu sei que vou dar call, mas fico a pensar um pouco para dar a impressão que tenho uma mão que de facto não tenho. Considerando o quão deep estamos e que estou a jogar para o nuts, se eu fizer uma three-bet, pareço forte, mas se pensar que um deles tem kt, ou um trio de Setes ou qualquer coisa forte, eles não irão fazer fold ao meu movimento. A única mão que eu conseguiria afastar seria um par, e a board não apresenta muitos projectos. Se eu fizer three-bet, vou levar com four-bet do tipo de mãos que quero que fiquem no pote, no caso de concretizar a minha sequência.

No turn saiu um J, e a possibilidade de um backdoor flush-draw, e então algo muito interessante aconteceu. O small blind decidiu abrir com 3.200, para um pote que já tinha 12.500 ou 13.000, ficando com 15.000 atrás. Eu sei que o botão tem uma mão que posso considerar muito forte. Penso nas formas de afastar o small blind e ficar a jogar contra o botão. E/ou representar uma mão ainda mais forte que a minha e fazer com que alguém com par de Reis ou superior saia da mão. Acabo por colocar 10.600. O botão demorou cerca de minuto e meio. Está numa situação miserável. Eu podia ter AQ, Q9 ou 89. Tenho todas as sequências a meu favor e ele quase de certeza que não tem uma única sequência na mira.

Se o river fosse insignificante, planeava ir all-in pois tinha feito tudo de forma a querer um all-in no river caso recebesse call agora. O botão deu call. O small blind também demorou muito tempo, e ele sente-se numa posição terrível. Penso que ele está a equacionar largar 89, pois pensa que o botão tem um trio e que eu devo ter aq. Ele faz fold e no river sai um A offsuit. Sei que o botão não pode ter uma Dana, mas não tenho a certeza se ele sabe que eu sei disso. Nestes casos normalmente faço uma value-bet, mas uma vez que a sua mão é um pouco obscura, acho que ele é capaz de fazer um hero-call com um trio se eu empurrar as minhas 40.000, ligeiramente acima do total do pote. Ele pensou por uns momnetos antes fazer fold. Eu mostrei um valete, e toda a mesa enlouqueceu. O small blind ficou furioso pois tinha largado a melhor mão no turn.

Qual era a tua imagem na mesa antes desta mão?

A minha imagem é normalmente bastante agressiva. As pessoas reconhecem-me nas mesas, e acho que 3 ou 4 dos jogadores me conheciam do poker online. Como cheguei à mesa com 60.000, sendo a stack inicial de 15.000, eles devem ter achado que estava bastante activo.

Vamos recuar. Podes dizer-me o que te passou pela cabeça no flop e no turn?

No flop, basicamente disse a mim mesmo, tenho oito outs para o nuts. De acordo com a forma como apostaram seria pouco provável que um dos adversários tivesse Dama-Valete. O botão não iria fazer raise com esse tipo de cartas. Como a mão se desenrolou dessa forma, estava confiante, que as minhas outs fossem suficientes. Também pensei que me obrigassem a sair da mão. Uma vez que o pote era pequeno no flop, eu podia representar um gutshot se saísse uma dama ou um valete no turn, e provavelmente ganhar a mão aí. Se saísse um Rei ou um dez, quase de certeza que também podia fazer bluff. Estava numa boa posição e uma stack confortável para me mexer e fazer um bluff. Se alguém tivesse Ás Rei, existem várias combinações possíveis onde os poderia obrigar a largar. Não importa o que sairia, eu podia representar. Se saísse um Dez, eu podia representar um Trio e agir como se tivesse Ás Dez e tivesse dado call no flop, por ter sido uma aposta tão pequena, que tinha que ir a jogo.

Esta mão tem tudo a ver com o que podias representar de uma forma credível, certo?

Sim, basicamente quando chegamos ao turn, é mais provavél que seja eu a ter Ás Dama. Tinha sido eu a fazer raise pré-flop, tinha dado call no flop, e call no turn. Estava bastante deep e a conseguir ir a jogo por um preço justo. Quando o small blind sai a apostar no flop, eu posso estar a representar um gutshot com uma overcard, e pensar que teu tenho a melhor mão. Da maneira que a mão se desenrolou, estava muito confiante que não importando o que saísse na mesa, eu iria convencê-los no river que eu tinha um gutshot e que tinha saído no turn. Era esse o meu objectivo. Tinhamos 300 big blinds e por isso dar call com o 5º ou 6º nuts com um par na board, seria muito, muito difícil. Por isso mesmo se o river fosse blank, eu estava a planear ir all-in. Não sei se ele faria fold ou não, mas podia resultar. Senão resultasse, não resultava, mas acho que o iria colocar numa situação bem complicada.

Então se o river fosse blank e ele desse um call depois de muito pensar, sentes que tinhas jogado bem?

Sim, claramento sinto que ele pensou que era possível eu ter Ás-Dama. [risos] Mas se ele tivesse feito instacall no river, então sentir-me-ia mal.

Quais são os aspectos mais importantes que devemos ter em linha de conta quando se faz uma jogada dessas, onde estás a representar uma mão?

Basicamente, quando estás a representar, tens de o fazer contra adversários competentes, oponentes que pensam o jogo, adversários que te colocam num determinado tipo de mãos, quer estejas a fazer bluff ou a fazer uma value-bet, eles vão interpretar o teu movimento e pensar no que ele representa. Quando eu fiz raise no turn nesta mão, eles vão interpretar que de alguma forma a minha mão ficou mais forte. Podia ter conseguido um par, um trio, um flush draw, ou uma sequência. Existiam muitas mãos que eu podia ter ali. Era isso que eu esperava. Todas as mãos que melhorassem com a carta que saiu no turn, estavam no meu leque de possíveis mãos, mas não na deles porque eles tinham representado muita força no flop, e nenhum tipo de mãos que representam muita força naquele flop, gostariam daquele turn, a não ser que tivessem oito-nove, mas oito-nove era apenas o terceiro nuts. Esta é a beleza desta mão, o facto de que eles nunca teriam o nuts. Nesta posição, mesmo sabendo que eles poderiam ter mãos relativamente fortes, de acordo com a linha que segui, eles só estavam ali para apanhar bluffs.

Que erros vês os iniciantes a cometer quando querem representar mãos?

Tens de compreender, e muitos profissionais mais velhos dizem isto, que quando estás a fazer um bluff, tens de fazer com que a história seja credível. É tão simples quanto isso. Se alguém te viu a apostar sempre que em flush draw, mas numa determinada mão tu fizeste call e depois fizeste raise no river quando o flush se completou, não irá fazer muito sentido. Baseado na forma como a minha mão foi disputada, as posições e range pré-flop dos jogadores e a forma como se ajustaram enquanto a mão se desenrolava, eu sabia que aquela carta no turn era boa para fazer bluff. Tem tudo a ver com a textura da board e compreender como o range de mãos varia à medida que uma nova carta sai na board.

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Kristty Arnett / Equipa PT.PokerNews

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