Como usar o póquer para dar cartas na bolsa
É visto por muitos como um jogo de azar mas se o talento, a estratégia e o controlo emocional prevalecerem é bem provável que os ganhos sejam consistentes. E os melhores dos melhores poderão mesmo trocar as cartas e as fichas de póquer por gráficos de cotações numa empresa de corretagem. "Há sempre firmas de Wall Street a quererem ver jogadores de póquer e, historicamente, existem empresas que usam o conhecimento sobre teorias de jogo como critério de recrutamento. O bridge, o xadrez e o póquer são os mais comuns", referiu ao Diário Económico Paul de Lucia, da Options Group, empresa que caça talentos para instituições financeiras.
O apetite de Wall Street por jogadores de póquer é explicado pelas qualidades em comum entre os campeões das mesas de jogo e os ‘traders' implacáveis. "Tanto o póquer como a negociação em bolsa envolvem tomar decisões muito rápidas sobre risco e recompensa em condições de alto ‘stress'. Os jogadores de póquer, como os ‘traders', têm de aprender a impedir que as suas emoções afectem os processos de decisão", explicou Brandon Adams, professor de Finanças Comportamentais em Harvard, em declarações ao Diário Económico. O docente já chegou à mesa final do World Poker Series, a maior competição mundial de póquer e arrecadou mais de 500 mil dólares em prémios como jogador.
Para além de Wall Street procurar ases do póquer, também acontece o inverso. A crise financeira levou a despedimentos em Wall Street. E parece que os gestores de activos também dão bons jogadores de póquer, havendo vários exemplos de sucesso. Nada que surpreenda os caçadores de talentos. "Os jogadores de póquer e os ‘traders' são rápidos a fazer cálculos matemáticos e ambos têm cenários com consequências reais onde a capacidade de julgar o risco/recompensa pode ser avaliada rapidamente".
Fundos que investem em jogadores de póquer
Tudo, ou quase tudo, pode servir de activo a ‘hedge funds', fundos não regulamentados que são considerados como investimentos alternativos. Dois veículos financeiros britânicos descobriram uma nova aplicação no final do ano passado, ao investirem em jogadores de póquer, de acordo com o "Financial Times". A ideia é a gestora pagar as entradas em torneios e jogos online de jogadores e, em troca, os talentos seleccionados repartirem os eventuais lucros que tenham no jogo. Para conseguir recrutar jogadores talentosos, uma das gestoras, a Manro Haydan, criou um site (badbeat.com) onde jogadores de póquer online podem provar as suas qualidades. Os melhores são seleccionados e financiados pela gestora. Mas a ideia não é nova. Há vários sites de empresas não financeiras espalhados pela internet que permitem aos utilizadores apostar em determinado jogador de póquer, sendo que uma percentagem dos ganhos e/ou perdas serão suportados pelos apostadores.
Durante a crise financeira, vários ‘hedge funds' e veículos de investimento procuraram soluções descorrelacionadas das tradicionais acções e obrigações, que viram o seu valor ser massacrado. Para além de jogadores de póquer, há fundos que investem em futebolistas, cavalos, instrumentos musicais, vinhos, arte e até em apostas ‘online'.
in Diário Económico