18+ jogue de forma responsável. Sicad.pt

Srij Gordon Moody Sicad 18+

Estratégia: Múltiplos Níveis de Pensamento

Estratégia: Múltiplos Níveis de Pensamento 0001

Estar apto a pensar em vários níveis é um conceito que todos os jogadores de poker devem ter. Quando se joga No-Limit Hold'em deepstacked o seu sucesso depende em grande parte deste conceito. Os melhores jogadores do mundo de xadrez entram na cabeça dos adversários e pensam 6 jogadas à frente. Estes jogadores são ganhadores consistentes. No poker o sucesso está também relacionado com este conceito. Você tem de entrar na cabeça do seu adversário e tomar decisões baseadas naquilo que pensa ser a sua linha de pensamento.

O que é o pensamento em vários níveis?

Não é mais do que uma técnica de entrar na cabeça do seu adversário. Pensar no que ele está a pensar, no que ele pensa que você está a pensar e por aí adiante. Como o nome sugere, existem diferentes níveis, e iremos analisar aqui os mais importantes.

Nível 0: Que mão tenho eu?

Este nível é o que todos os jogadores dominam. Sabem a mão que têm, que mãos batem a sua mão e que mãos conseguem bater com a sua mão.

Exemplo: Se tiver 56 e a board for 784JJ. Floppou um straight 8-high. Bate todos os jogadores com um par, 2 pares e trio de valets. Perde contra alguém que tenha um straight com T9, flushes, full house, poker ou straight flush.

Nível 1: O que tem o meu adversário?

Muitos jogadores já dominam este nível. O adversário faz uma grande aposta, daí que deva ter uma grande mão, ou se checka no turn deve ter uma mão fraca. Deve analisar as acções do seu adversário, estabelecer o seu range e ver se o consegue bater.

Exemplo: Está a jogar online uma mesa full ring the cash game e um jogador supertight raisa 4BB's em MP pré-flop. Por sorte você tem o PokerOffice ou o Poker Tracker instalado no seu computador, e consegue ver que este jogador apenas raisa 3% das mãos pré-flop. Este é um indicador de que ele deve ter algo do tipo JJ+, AQs+, AKs. Analisou as suas acções e agora tem uma ideia mais clara sobre aquilo que ele deverá ter nas mãos.

Nível 2: O que pensa o meu adversário da minha mão?

Aqui as coisas começam a complicar-se. Por sorte o seu adversário é também um jogador que "pensa o jogo". Ali está ele, sentado do outro lado da mesa a analisá-lo. É necessário ter muita atenção nestas situações. O importante não é o que você faz mas sim o que o seu adversário pensa que você faz. Pense nos seus movimentos e tente imaginar o que interpretará o seu adversário dos mesmos.

Exemplo: Você é um TAG (tight-aggressive) e não raisa potes onde não tenha uma boa mão. Imaginemos que está numa mesa de NL100 9-handed por meia hora e tem uma super run de cartas. Teve 2 vezes AK, QQ, JJ, AQ e uma vez AA. Você ganhou vários potes pré-flop, após raisar os seus monstros ou então no flop fazendo uma aposta grande, nunca indo a showdown. Claro que você está a jogar como sempre joga, raisa as mãos boas e folda o lixo, mas o problema é que os seus adversários, que o estão a ver pela primeira vez não sabem disso. Vêm-no como uma maníaco que raisa todas as mãos e que continua a mandar barris pós-flop. Ainda não virão nenhuma das suas mãos e têm mais do que motivos para acreditar que você é um maníaco. Aí você recebe KQ em LP e depois de toda mesa foldar você raisa para $4. Todos foldam menos a BB que faz re-raise para $12 (tem jogado tight). Em circunstâncias normais você foldaria a sua mão, mas o que pensará o seu adversário? Acabou de o ver a raisar muitas mãos consecutivamente e não está a respeitar o seu raise. Já deve estar farto da sua agressividade e decidiu ensiná-lo a ter juízo: "Não me roubas a blind, tas armado em quê?". Enquanto que em circunstâncias normais deveria foldar a sua mão pois o adversário deveria ter algo como AK ou QQ+, devido ao que mencionei, o call é mais do que aceitável. O seu adversário fará aquele movimento com ATs, QJs, 22 ou mesmo com 57s. O range aumenta porque ele pensa que você está mais uma vez a tentar roubar o pote, daí que o seu KQs não deverá estar atrás.

Nível 3: O que pensa o meu adversário que eu penso que ele tem?

Ok, se calhar teve de ler o título duas vezes. Parece complicado mas na verdade é bem simples. Os seus adversários pensarão como é que você interpretará as suas acções e em que range o deverão estar a situar. Este terceiro nível de pensamento, foca-se sobre a maneira como os seus adversários pensam que você interpreta as suas (deles) acções.

Exemplo: Está relativamente deep num torneio e é uma das big stacks da mesa. Em MP está sentado um bom jogador, embora short stack. Esse jogador é bom e inteligente, já foi all in algumas vezes mas não foi called. Ele necessita desesperadamente de fichas, pois as blinds e as antes estão a matá-lo. As blinds estão a 400/800 e ele tem 7,400 fichas. Todos foldam até ele, que em LP raisa para 1,600. É estranho, ele raisa 1,600 quando umas jogadas antes foi all in directo. Para juntar "à festa" está short, o que faria com que ele "tivesse obrigatoriamente" de fazer push com uma boa mão. Podemos concluir que ele quererá jogar uma mão como AA ou KK e você está a ponto de foldar o seu 88. Mas espere um minuto. O seu adversário não é idiota. Desta vez ele apenas raisou 2 BB's, e isso parece-nos estranho. Sendo ele um bom jogador e sabendo que você também pensa bastante antes de tomar uma decisão, ele quer que pense que tem AA ou KK e é por isso que fez mini-raise, fazendo parecer que quer mesmo um call. Ele está a pensar num segundo nível: " Se fizer mini-raise ele vai pensar que tenho um monstro, folda, e eu ganho as blinds." Contudo você pensa num terceiro nível e: "Ele pensa que vou foldar porque penso que ele tem um monstro e só fez mini-raise". Mais uma vez está um passo à frente do seu adversário, e faz re-raise all in. O adversário olha para si de lado e acaba por foldar.

E podemos continuar…

O 4º nível seria: " Que mãos pensa o meu adversário que eu penso que ele pensa que eu tenho". Podemos continuar assim com o 5º nível, 6º nível e por aí adiante. O importante a reter é que deve sempre saber como pensa o seu adversário no nível anterior. Daí que o 3º nível seja sobre como pensa o seu adversário em 2º nível. É esta maneira de pensar que separa a elite do poker do resto do mundo.

Quando e em que nível pensar?

Na maioria das situações chega pensar apenas no 1º nível. Em potes pequenos e decisões rotineiras você decidirá automaticamente o que fazer. Sabe o que tem nas mãos e tem uma ideia do que o adversário pode ter. Para jogar uma mão standard isto chega perfeitamente. Pensar nos primeiros níveis é suficiente quando se joga contra jogadores que pensam pouco ou contra jogadores que nem pensam. Por vezes você tem nuts e alguém vai all in para cima de si, ou você tem 5BB's e recebe AK. Nestas situações só precisa do nível zero de pensamento, TODAS! Muitas outras decisões são tomadas no nível 1. Imaginemos que tem 99 no botão e o jogador UTG raisa o pote. Tem de analisar bem a sua mão, mas a sua decisão terá de ser tomada com base naquilo que o seu adversário tem, ou seja, nível 1.[/I]

Por vezes estas situações requerem um bocado mais de atenção/pensamento, em especial quando se está a jogar No-Limit deepstacked. É importante ter atenção porque os jogadores deverão dar acção no flop, turn e river. Muito importante também é que você pense apenas um nível acima do seu adversário. Se ele apenas pensar nível 0, não é +EV pensar nível 2. Isto porque o seu adversário apenas pensa nível 0 e não sabe sequer o que é o nível 2. Estes adversários jogam apenas as suas cartas e nem fazem ideia do que você possa ter, não perca tempo a pensar no que eles pensam que você pode ter. Desde que consiga pensar um nível acima dos seus adversários será sempre (ou quase) o grande vencedor da mesa. Mas atenção! Se estiver a pensar no nível 2 e pensar que um jogador o está a bluffar e após dar o call vê nuts nas mãos dele, deverá perguntar-se se ele não estaria a pensar um nível acima do seu.

É uma autêntica guerra psicológica, e é isso que faz do No-Limit deepstack um grande jogo. Não precisa de pensar sempre em nível 3, apenas num nível acima do seu adversário e terá edge sobre a mesa.

Ilustração: Ivey vs Jackson

O vídeo do YouTube de baixo do texto mostra uma grande batalha psicológica entre Phil Ivey e Paul Jackson. Ivey tem uma liderança de 4:1 em fichas,raisa pré-flop com Q8 e Jackson dá call com 65. O flop é 7JJ. Ambos os jogadores falham o flop por completo e começa a batalha pelo mesmo.

Ivey apostou no flop, standard bet, apenas para ver como Jackson reagia. Ivey está a pensar em nível 1: "Ele não tem nadinha, vou apostar". Jackson responde com raise porque pensa: " O Ivey sabe que eu não tenho nada e por isso apostou". Jackson já estava a pensar em nível 2, logo à frente de Ivey.

Agora a acção volta a Ivey outra vez, que faz re-raise. Está agora a pensar em nível 3. Ivey está a pensar: "O Jackson sabe que eu sei que ele não tem nada e por isso fez re-raise." Agora Jackson faz re-re-raise! Jackson está agora a pensar em nível 4: "Ele sabe que eu sei que ele sabe que eu não tenho nada."

Após isto, Ivey atingiu o próximo nível e foi all in esmagando Jackson neste jogo psicológico. Pessoalmente acho que Ivey foi all in porque o re-re-raise de Jackson foi muito estranho. Se alguém aposta, você raisa, e recebe um re-raise, normalmente ( e com a stack de Jackson) iria logo all in. Se Jackson tivesse ido all in logo após o re-raise Ivey, provavelmente poderia ter levado o pote.

Conclusão

Como pod ever, este tipo de pensamento pode ajudar bastante quando joga deepstacked. É importante perceber a forma como o seu adversário percebe para poder ajustar as suas decisões. É uma guerra psicológica, e aquele que mais "alto" pensar será o vencedor.

Mais notícias

Outras Histórias